Nesta semana, a dívida dos R$ 7,6 bilhões do Postalis pelos correios serão divididos entre todos nós, brasileiros de cada canto desse país. O Brasil já está acostumado com o velho roteiro do descaso, onde o Estado funciona como um balcão de negócios privados e os prejuízos são divididos generosamente entre aqueles que nunca estiveram à mesa. Nós pagamos. E, como não poderia ser diferente, os maiores lesados são justamente aqueles que sustentam a máquina pública e seus delírios: os trabalhadores, aposentados e pensionistas.
Enquanto isso: Dilma Roussef se refestela em suas viagens na volta ao mundo
Mas vamos entender essa história, aí vai: o Postalis, fundo de pensão dos Correios, acumulou prejuízos bilionários durante o governo Dilma Rousseff, em um período onde a palavra “gestão” se confundia com “aparelhamento” e o interesse público foi ofuscado por práticas que, no mínimo, podem ser classificadas como temerárias. Um fundo que deveria garantir a aposentadoria tranquila dos seus participantes tornou-se um barril de pólvora, prestes a explodir a qualquer momento, tudo por conta de uma sequência de decisões desastrosas.
Estamos falando de uma época em que o Postalis mergulhou em investimentos que mais pareciam apostas em um cassino, onde as fichas eram milhões de reais que pertenciam aos contribuintes. A CPI dos Fundos de Pensão e a Operação Greenfield, ramificação da Lava Jato, deixaram claro que os investimentos do Postalis, entre 2011 e 2016, foram conduzidos sob o manto de interesses políticos, com pouca ou nenhuma preocupação com o retorno financeiro. E o resultado disso? Um rombo que, corrigido pela inflação e pela meta atuarial, chega hoje a R$ 9,1 bilhões, ou 60% do déficit total.
E não é que tinha a Venezuela?
É emblemático que esse rombo seja consequência de uma gestão que priorizou títulos da Venezuela e Argentina, países então alinhados com a política externa do Partido dos Trabalhadores, o PT. Não surpreende que o prejuízo tenha sido colossal, uma vez que esses títulos estavam longe de ser um porto seguro para os recursos dos trabalhadores brasileiros. A decisão de investir em títulos de países economicamente instáveis e politicamente voláteis só pode ser descrita como irresponsável. Mas, claro, para aqueles que tomaram essas decisões, a palavra “responsabilidade” parece ter um significado muito elástico.
Era tudo mentira e enganação
O que mais revolta, no entanto, não é apenas o fato de que esses prejuízos foram causados por decisões absurdas e interesses alheios ao bem-estar dos participantes do Postalis. O pior é que, ao final, a conta dessa farra não será paga por quem a promoveu, mas por aqueles que confiavam que seus recursos estavam em boas mãos. Os funcionários, aposentados e pensionistas dos Correios agora se veem diante de uma realidade cruel: terão que arcar com metade do rombo, um valor que representa um golpe devastador em suas finanças pessoais.
E quem vai pagar? Claro que é você, trabalhador dos Correios, e nós, que nem sabíamos disso.
Essa “solução” foi consagrada em um acordo, curiosamente selado pelo atual presidente dos Correios, Fabiano Santos, que possui um histórico íntimo com o Postalis, tendo sido advogado do fundo durante a gestão de Dilma Rousseff. Mesmo que ele negue qualquer conflito de interesses, é impossível não levantar suspeitas sobre o timing desse acordo. Afinal, por que agora? Por que não esperar que as ações judiciais em curso, que buscam recuperar parte do dinheiro perdido, sejam concluídas antes de comprometer os já exauridos cofres da estatal e, por consequência, de seus funcionários?
Para os amigos e aliados, tudo
Os Correios, uma empresa que já registra prejuízos anuais na casa dos milhões, agora se compromete a desembolsar R$ 33 milhões por mês para socorrer o fundo de pensão. Isso enquanto os próprios funcionários, aposentados e pensionistas veem seus benefícios reduzidos e suas contribuições aumentadas de forma drástica. A empresa, que deveria ser um exemplo de eficiência e boa gestão, está sendo sugada para um vórtice de dívidas e responsabilidades que, em sua maior parte, foram criadas por uma administração que parecia mais interessada em agradar aliados políticos do que em garantir a sustentabilidade do fundo de pensão.
Até o fim do mundo
O acordo firmado ainda prevê a possibilidade de revisão anual das parcelas, o que significa que o pesadelo pode se estender indefinidamente. Tudo isso aprovado sob o olhar complacente da Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais, vinculada ao Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos. Mais uma vez, vemos um órgão que deveria zelar pelo interesse público endossando uma operação que transfere o ônus da má gestão para aqueles que menos deveriam sofrer com ela.
Livres, leves e soltos
E enquanto isso, os responsáveis pelo estrago continuam livres, leves e soltos. Nenhuma palavra sobre a responsabilização daqueles que tomaram decisões catastróficas, que queimaram milhões em investimentos desastrosos e que, ao final, colocaram a conta nas mãos dos trabalhadores. Essa impunidade é o que mais fere, é o que mais revolta. Como aceitar que aqueles que deveriam proteger o patrimônio dos aposentados tenham se transformado nos algozes desse mesmo patrimônio?
Golpe baixo
No meio de tudo isso, os participantes do Postalis se encontram em uma posição de absoluta vulnerabilidade. Com seus benefícios cortados e contribuições majoradas, muitos se veem em uma situação financeira desesperadora. É um golpe baixo, é uma traição ao contrato social que deveria existir entre o Estado e seus servidores. Um contrato que foi rompido da maneira mais vil possível, deixando aqueles que sempre cumpriram suas obrigações com uma dívida que não é deles.
Ao fim, todos pagamos
No fim das contas, o que vemos é a repetição de um padrão que já se tornou comum no Brasil: a socialização das perdas. Quando a situação é boa, os lucros são privatizados, quando é ruim, os prejuízos são socializados. E o pior de tudo é que isso é feito sem o menor pudor, sem a menor consideração pelas vidas que serão devastadas por essas decisões.
Mais um símbolo que vai para o esgoto
Os Correios, que já foram um símbolo de confiança e eficiência, hoje se encontram atolados em um mar de dívidas e incertezas. E o Postalis, que deveria ser um porto seguro para os aposentados, se tornou um pesadelo do qual eles não conseguem acordar. Este é o legado deixado por anos de má gestão, aparelhamento político e descaso com o dinheiro alheio.
Tolerância tem tempo. Até quando?
Em meio a tudo isso, fica uma pergunta no ar: até quando o Brasil vai tolerar essa cultura de impunidade e irresponsabilidade? Até quando vamos aceitar que os erros dos poderosos sejam pagos pelos mais vulneráveis? Talvez a resposta para isso seja a mais amarga de todas: enquanto continuarmos a colocar os mesmos em posições de poder, estaremos condenados a repetir os mesmos erros, a arcar com as mesmas dívidas e a lamentar as mesmas injustiças.