A resposta do Supremo Tribunal Federal (STF) às denúncias internacionais feitas por Eduardo Bolsonaro pode se revelar o maior erro estratégico da Corte nos últimos anos. O deputado licenciado, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, vem se tornando o novo rosto da resistência democrática no Brasil — e, ironicamente, impulsionado pela própria pressão exercida contra ele. Ao transformá-lo em alvo preferencial de inquéritos e acusações, o STF o projeta para o centro da arena política, nacional e internacional, fortalecendo sua viabilidade como possível sucessor do pai na eleição presidencial de 2026.
Com Jair Bolsonaro ainda inelegível e às voltas com diversos processos, a direita brasileira carece de uma liderança com apelo popular e densidade política capaz de unificar sua base. Eduardo desponta como esse nome, não apenas por carregar o sobrenome que catalisou milhões de votos, mas por protagonizar um embate direto, simbólico e crescente contra o ativismo judicial — tema sensível a setores amplos da sociedade, tanto no Brasil quanto no exterior.
Suas ações internacionais, como o diálogo com congressistas norte-americanos e as denúncias sistemáticas sobre abusos do Judiciário brasileiro, se tornaram um ativo político. São movimentos legítimos, amparados por tratados internacionais de direitos humanos, que colocam o Brasil sob escrutínio global. O incômodo do STF diante dessas iniciativas revela um dilema estratégico: silenciar-se e assistir ao crescimento político de Eduardo, ou reagir — e, nesse caso, escancarar o viés político de decisões que deveriam ser imparciais.
Qualquer tentativa de represália — como a abertura de inquéritos baseados em declarações públicas ou postagens nas redes sociais — corre o risco de confirmar uma suspeita já comum nos bastidores de Brasília e de Washington: há um desequilíbrio de poder institucional no Brasil, com o Judiciário ocupando um protagonismo que ultrapassa seu papel constitucional. Esse tipo de reação alimenta a narrativa de Eduardo no centro de uma perseguição política e reforça suas denúncias de que direitos fundamentais estão sendo sistematicamente desrespeitados no país.
Mais do que um parlamentar combativo, Eduardo começa a assumir a condição de ícone — um símbolo da luta contra um sistema que, sob o pretexto de proteger a democracia, atropela garantias fundamentais e o devido processo legal. Para uma parcela expressiva da população, esse paradoxo é inaceitável — e pode se tornar uma cobrança real nas urnas. Pesquisas recentes já mostram que mais da metade dos brasileiros vê o STF com desconfiança. Se essa percepção continuar crescendo, Eduardo pode se consolidar como o principal nome da oposição elegível— com legitimidade construída no embate direto com o poder togado, não como substituto do pai, mas como liderança própria.
Ao pressionar um deputado licenciado que atua do exterior, o STF corre o risco de transformar um personagem secundário em protagonista. A Justiça brasileira se vê, então, diante de uma encruzilhada: ignorar Eduardo e permitir que ele continue seu trabalho de articulação internacional contra os ministros, ou enfrentá-lo diretamente, dando-lhe ainda mais visibilidade e robustecendo sua imagem como líder da resistência democrática. Em ambos os cenários, a Corte perde.
A verdade é que Eduardo Bolsonaro está sendo moldado pelo próprio sistema que tenta silenciá-lo — com tentativas de cassação e uma possível inelegibilidade que não teria respaldo jurídico. E se hoje ainda é visto por muitos como apenas o filho do ex-presidente, amanhã poderá ser lembrado como o homem que desafiou — e talvez tenha vencido — o ativismo judicial brasileiro, possivelmente nas urnas.










