Em outubro de 2025, a Operação Contenção no Rio de Janeiro resultou na morte de mais de 100 indivíduos ligados a facções criminosas armadas. A ação, conduzida por forças policiais sob mandados judiciais, gerou forte reação de figuras públicas. Em meio a isso, Lula classificou a operação como “desastrosa” e uma “matança”, e seu ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, afirmou que o presidente ficou “estarrecido” com o número de mortos. Já Guilherme Boulos, conhecido por apoiar movimentos sociais que desafiam o Estado de Direito, disse em evento público que a ação representava “demagogia com a vida das pessoas”. Essas declarações revelam um fenômeno mais profundo, que pode ser analisado sob a lente da psicologia clínica e da sociologia política.
Para analisar a situação em que políticos e militantes de esquerda defendem o agressor revolucionário contra agentes da lei, recorremos ao DSM-5, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. O DSM-5 descreve o transtorno de personalidade paranoide como uma desconfiança persistente e injustificada em relação às instituições. Indivíduos com esse padrão tendem a interpretar ações legais — como operações policiais — como perseguições políticas ou atos de opressão. Quando essa visão é adotada por grupos ideológicos, ela pode levar à rejeição sistemática da autoridade estatal, mesmo diante de evidências de legalidade e necessidade.
No caso da operação no Rio, a reação de certos setores não se baseou em uma análise dos fatos, mas em uma narrativa emocional que equiparou criminosos armados a vítimas sociais — apesar de os próprios moradores das favelas onde a operação foi executada a considerarem limpa e apropriada para garantir a paz. Essa dissociação entre realidade e discurso, observada em militantes extremistas, é típica da identificação projetiva: um mecanismo psicológico em que o indivíduo transfere seus conflitos internos para um grupo externo, adotando suas causas como se fossem próprias. A polícia, nesse cenário, deixa de ser vista como protetora da sociedade e passa a ser retratada como inimiga ideológica.
Estudos clínicos também podem associar essa conduta ao transtorno de personalidade antissocial, igualmente descrito no DSM-5, que envolve desprezo pelas normas sociais, ausência de empatia pelas vítimas e racionalização da violência. Quando esses mesmos grupos justificam ações do Hamas — como o uso de escudos humanos e o assassinato de civis — sob o argumento de “resistência”, estão expressando traços compatíveis com esse padrão. A violência é reinterpretada como legítima, e as vítimas reais são ocultadas em nome de uma causa ideológica.
A sociologia também oferece ferramentas para entender como essas narrativas se constroem. A teórica Nancy Fraser aponta que, em contextos de polarização, a luta por reconhecimento pode eclipsar a justiça objetiva. Ou seja, a identidade do “oprimido” passa a justificar qualquer ação, mesmo que violenta. No caso do Hamas, essa lógica transforma um grupo terrorista em símbolo de resistência anticolonial, eclipsando os métodos utilizados e as vítimas civis envolvidas.
No Brasil, essa mesma dinâmica se aplica às comunidades dominadas por facções criminosas. A crítica à operação policial no Rio não se baseou apenas em preocupações com direitos humanos, mas em uma construção simbólica que retrata os criminosos como vítimas sistêmicas e o Estado como opressor. O sociólogo Michel Wieviorka explica que “a violência pode ser investida de sentido político quando é percebida como expressão de uma identidade negada”. Essa percepção enfraquece a legitimidade das instituições e, indiretamente, busca dar poder ao crime organizado, que tem saído fortalecido nos últimos anos diante da inação ou conivência dos responsáveis pela justiça e segurança pública.










