O mercado financeiro recebeu com alívio a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) de manter a taxa Selic em 10,5% ao ano, encerrando o ciclo de cortes iniciado em agosto do ano passado. Analistas destacaram a unanimidade entre os nove membros do colegiado, incluindo o presidente do BC, Roberto Campos Neto, como um indicativo de coesão e técnica, afastando os temores de uma postura mais leniente com a inflação por parte dos novos diretores indicados pelo governo Lula (PT). “A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária”, afirmou o BC em nota.
A decisão veio em um momento complicado para a economia, com a resiliência das atividades domésticas e a elevação das projeções de inflação. Desde a última reunião do Copom, o mercado vinha ajustando suas expectativas devido à incerteza sobre a capacidade do governo federal de cumprir suas metas fiscais, o que impactou o câmbio e o índice Bovespa negativamente. O Banco Central destacou a necessidade de uma política fiscal crível e sustentável para ancorar as expectativas de inflação e reduzir os prêmios de risco dos ativos financeiros. “O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação”, reforçou o comunicado.
A interrupção do ciclo de cortes na Selic, após sete reduções consecutivas, deixa a taxa básica de juros no menor patamar desde o final de 2021, mas também sinaliza uma perspectiva de juros elevados para 2024. O Boletim Focus ajustou as expectativas do mercado para uma Selic de 10,5% ao final deste ano e uma inflação de 3,96%. A incerteza fiscal do governo, com problemas na implementação de medidas para zerar o déficit das contas públicas, continua influenciando a confiança dos investidores, enquanto o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), e a ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB), têm defendido uma revisão de gastos para alcançar o equilíbrio fiscal.