A Argentina enfrenta uma crise econômica acentuada, marcada pela terceira maior taxa de inflação do mundo. A desvalorização do peso argentino e as taxas de inflação fora de controle, não vistas no país em mais de três décadas, dominam as discussões que antecedem as eleições presidenciais. O atual presidente de esquerda, Alberto Fernández, optou por não buscar a reeleição, deixando os eleitores à procura de uma nova liderança.
De acordo com o Instituto Nacional de Estatística e Censos da Argentina (INDEC), o país experimentou um surto dramático e consecutivo de inflação nos últimos dois meses, registrando um aumento de 12,7% em setembro e 12,4% em agosto.
Embora a taxa de inflação anual da Argentina seja menor do que a da vizinha Venezuela, que atinge 317,6% (ou 396%, de acordo com estimativas privadas, uma vez que o regime socialista de Maduro costuma distorcer os dados), a inflação na Argentina em setembro superou a taxa de 6% registrada na Venezuela no mesmo mês.
No momento, a Argentina ocupa a terceira posição no ranking mundial de inflação, ficando atrás apenas de Venezuela e Líbano.
Em 10 de outubro, o Banco Central da Argentina elevou as taxas de juros do país de 118% para 133% em uma tentativa desesperada de conter a inflação. No entanto, analistas do Banco Central preveem que a Argentina encerrará 2023 com uma inflação superior a 180%.
À medida que a inflação continua a corroer o poder de compra dos argentinos e a desvalorizar o peso argentino, os cidadãos buscam preservar suas economias trocando pesos por dólares americanos ou outras moedas estrangeiras.
A Argentina possui uma história conturbada de medidas de controle de câmbio que remonta a 1931, restringindo severamente a capacidade dos cidadãos de negociar livremente com moeda estrangeira. A última vez que a Argentina não impôs restrições desse tipo foi durante o mandato do ex-presidente de centro-direita, Mauricio Macri, que as eliminou após assumir o cargo em 2015. No entanto, Macri reintroduziu as medidas de controle cambial no final de seu mandato em 2019 devido à significativa perda de reservas estrangeiras.
Em vez de buscar soluções para a crise econômica, o governo de esquerda de Alberto Fernández apertou ainda mais as medidas de controle cambial durante seus quatro anos no poder, acelerando a queda da economia. Atualmente, o governo mantém mais de 15 taxas de câmbio diferentes, cada uma com limitações severas, o que levou ao aumento de uma taxa de câmbio paralela conhecida como “Dólar Blue”, operando à margem do sistema oficial do governo.
Em 9 de outubro, a taxa de câmbio do Dólar Blue ultrapassou 1.000 pesos por dólar, retornando a cerca de 955 pesos por dólar na manhã de quarta-feira (18).
Os três principais candidatos na próxima eleição presidencial apresentam abordagens diferentes para enfrentar a inflação na Argentina como parte de suas promessas de campanha econômica.
O economista libertário Javier Milei, o favorito na corrida presidencial, promete eliminar o Banco Central da Argentina e o peso argentino por meio da “dolarização”, que substituiria a moeda nacional pelo dólar dos Estados Unidos. Países com problemas semelhantes de inflação descontrolada, como Equador, El Salvador e Panamá, adotaram a dolarização com sucesso.
A candidata de centro-direita, Patricia Bullrich, promete combater a inflação por meio da implementação de um sistema de “dupla moeda” na Argentina, permitindo que tanto o peso quanto o dólar circulem livremente no país. Ela também busca conceder ao Banco Central da Argentina autonomia completa.
O atual ministro da Economia da Argentina e candidato de esquerda, Sergio Massa, planeja enfrentar a crise econômica do país por meio do equilíbrio fiscal, superávit comercial, uma taxa de câmbio competitiva que substituiria o atual sistema fechado e complexo, e pelo “desenvolvimento inclusivo”.
O governo de saída do presidente Fernández, que era pró-China, buscou afastar a Argentina do dólar americano e substituí-lo pelo yuan chinês. Em abril, a Argentina anunciou que começaria a usar o yuan para pagar importações chinesas em vez do dólar americano, seguindo uma medida também adotada pelo governo brasileiro de esquerda de Luiz Inácio Lula da Silva.
Além disso, a Argentina começou a usar o yuan para pagar sua dívida de mais de US$ 40 bilhões ao Fundo Monetário Internacional (FMI), após o anúncio da organização em julho de que isso era aceitável.