O regime russo colocou no colo de Lula (PT) a responsabilidade pelos atritos recentes entre o Brics e os Estados Unidos em torno da criação de uma moeda alternativa ao dólar. Em entrevista à TV BRICS, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, afirmou que foi Lula quem propôs um sistema de pagamento alternativo na cúpula de Joanesburgo, em 2023. Segundo ele, o Brasil deverá “dedicar o máximo de energia” ao tema durante sua presidência rotativa do bloco em 2025, o que confirma o protagonismo brasileiro na proposta que tem incomodado Washington.
A reação americana veio com ameaças diretas do presidente Donald Trump, que, em novembro de 2024, prometeu aplicar tarifas de 100% a países que apoiarem a criação de uma nova moeda do Brics. Em resposta, Lula reconheceu o incômodo causado, sugerindo que “Trump tenha ficado preocupado com a reunião dos Brics”, realizada no Rio de Janeiro. Apesar da retórica agressiva, a Rússia foi excluída da lista de países afetados pelas novas tarifas.
Analistas observam que o Brasil, que recentemente sofreu uma imposição de tarifas do 50%, pode acabar arcando com custos diplomáticos e comerciais de uma proposta que favorece principalmente interesses russos e chineses. A ausência da Rússia entre os países atingidos por tarifas indica um cálculo estratégico por parte dos EUA, que já impõem sanções pesadas a Moscou. Já o Brasil, mesmo sem ganhos diretos com a criação de uma nova moeda, se expôs como protagonista no ataque à economia dominada por Washington. A movimentação contrasta com a postura mais pragmática de países como Índia e África do Sul, que têm adotado posição mais cautelosa e tem preferido negociar com o governo Trump.