Recentemente vimos como o indiciamento de Alexandre de Moraes nos Estados Unidos e as investigações sobre o USAID repercutem contra membros do nosso poder público. Ao mesmo tempo ocorrem mobilizações populares no Brasil pela anistia dos presos de 8 de janeiro e pelo Fora Lula. Pelas vias institucionais não há mais como coibir os abusos cometidos e o povo já entendeu que depende apenas de si.
Em 1988, Manuel Noriega, presidente do Panamá, foi indiciado na corte da Flórida por narcotráfico, corrupção e violação de direitos humanos. Ele teve visto e contas bloqueadas, e foi feito pedido de extradição, que ele se negou a atender. Membros de seu governo também foram indiciados e sancionados por envolvimento com o tirano, e essa história pode se repetir no Brasil.
Há pelo menos dois desdobramentos possíveis no caso do indiciamento e eventuais punições a Moraes: se ele se for convocado a prestar depoimento nos EUA e se negar, uma série de medidas serão aplicadas a ele e aos que acobertarem suas ações – membros do Judiciário e do governo, Polícia Federal, parlamentares e partidos de esquerda.
Se as pressões não obtiverem sucesso, as sanções podem ter mais abrangência, a exemplo do cancelamento de vistos e proibição de adentrar o território americano. Todos serão julgados individualmente, por obstrução da Justiça e até cumplicidade nos crimes. Péssimo para quem estiver ao lado de Moraes.
O efeito político desses desdobramentos causará mais desgaste ao governo, que pode perder a possibilidade de operar a própria moeda, pois a questão envolve relações comerciais. Os Estados Unidos detêm o controle do sistema bancário, com o protocolo Swift, e também do crédito, podendo bloquear todos os cartões de Moraes e seus apoiadores.
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O resultado provavelmente será uma divisão, pois aqueles que se mantiverem em conluio serão prejudicados, e podem formar um bloco de oposição por não quererem sofrer sanções individuais. Nesse sentido, Moraes seria “boi de piranha” para que todo o sistema não fosse devorado junto com ele.
Os efeitos virão bater à porta do Brasil. Quem sabe, com todas essas medidas, o Judiciário volte para sua função e cesse a interferência nas próximas eleições? Será possível ter uma maioria de deputados e senadores corajosos, que apoiem uma reforma mais ampla? São apenas conjecturas, porque a única alavanca certa para a mudança são as ações dos EUA e a população, mais uma vez, nas ruas.