Os Estados Unidos apresentaram uma proposta perante o Conselho de Segurança das Nações Unidas na segunda-feira, buscando a autorização para uma intervenção humanitária em Haiti, em resposta à crescente violência e criminalidade que assola a ilha caribenha.
A proposta, defendida pelo governo de Joe Biden, sugere que as Nações Unidas coordenem uma intervenção liderada pelo Quênia, que ofereceu o envio de aproximadamente 1.000 agentes de segurança. Outros países da região também manifestaram disposição para contribuir com efetivos.
Caso a proposta seja aprovada, a intervenção não seria uma missão da ONU, mas sim uma iniciativa externa. Além disso, o financiamento não viria dos recursos da ONU, mas sim de contribuições voluntárias de nações membros.
Essas medidas visam atender às preocupações da China, que havia expressado forte oposição à intervenção, atrasando a votação da proposta. Autoridades americanas de alto escalão têm mantido diálogo direto com autoridades chinesas para compreender e abordar suas preocupações.
Os Estados Unidos também solicitaram a assistência do Brasil para mediar com a China. Durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, o presidente Biden se reuniu com o ex-presidente Lula Da Silva, e a questão de Haiti estava na agenda do encontro privado. Ambos os países concordam que uma força estrangeira deve ajudar Haiti, mas também concordam que não podem liderar a missão.
Embora a posição da China no Conselho de Segurança permaneça incerta, a nova proposta dos Estados Unidos busca contemplar as preocupações chinesas. A China, como membro permanente com direito a veto no Conselho de Segurança da ONU, desempenha um papel crucial nas decisões desse órgão.
Apesar de não liderar ativamente a intervenção, o governo dos Estados Unidos se comprometeu a fornecer apoio logístico e financeiro substancial. Estima-se que os Estados Unidos contribuirão com cerca de 100 milhões de dólares para financiar a missão liderada pelo Quênia.
A discussão sobre uma possível intervenção estrangeira no Haiti tem sido uma pauta frequente dentro do país. Após dois anos do assassinato do presidente Jovenel Moïse em 2021, um governo interino assumiu o poder e tem resistido a realizar eleições.
A justificativa para o adiamento das eleições é a falta de condições de segurança e a instabilidade que assola o país. Apesar dos diálogos promovidos pela Comunidade do Caribe (Caricom) para restaurar a ordem democrática, o governo interino insiste que a prioridade é uma missão externa que restaure o controle estatal sobre a segurança, já que grupos criminosos controlam grande parte do território.
A Organização dos Estados Americanos (OEA) também discute formas de auxiliar Haiti a restaurar a ordem democrática. A segurança é vista como um pré-requisito fundamental para qualquer progresso, já que o governo alega ter perdido o monopólio do uso da força, tornando-se refém de grupos criminosos extremamente poderosos.
Segundo dados recentes das Nações Unidas, de janeiro até 15 de agosto deste ano, pelo menos 2.400 pessoas foram assassinadas e 902 ficaram feridas no Haiti. Os sequestros continuam aumentando, tornando ainda mais difícil a presença de organizações internacionais e multilaterais no país, que está desesperadamente em busca de assistência. Somente este ano, pelo menos 950 pessoas foram vítimas de sequestro.