Brasília está se tornando, mais uma vez, o centro de uma narrativa global que envolve soberania, justiça e o necessário reposicionamento geopolítico de um país que insiste em conviver com estruturas de poder quase monárquicas dentro de uma democracia de papel. A chegada do chefe interino da Coordenação de Sanções dos Estados Unidos, David Gamble, ao Brasil marca uma nova fase das relações bilaterais — não apenas do ponto de vista da segurança, mas também no campo simbólico da política internacional: o império da lei deve prevalecer no Ocidente, independentemente da toga que alguém vista ou da cadeira institucional que ocupe.
Os Estados Unidos, sob a nova administração Trump, não estão dispostos a fazer vista grossa para violações sistemáticas de direitos humanos e abusos de poder travestidos de decisões judiciais. Quando um país democrático vê seu Supremo Tribunal se tornar parte litigante de uma guerra contra vozes opositoras, algo está profundamente errado. O Brasil vive, hoje, um estado de fratura democrática escancarada há muitos anos, onde decisões monocráticas tomam o lugar do devido processo legal.
Gamble não veio ao Brasil apenas para tratar de narcotráfico ou terrorismo — embora essa seja a versão oficial divulgada pelo governo americano. Quem acredita nessa explicação não entendeu a natureza da diplomacia sob Trump. A linguagem da Casa Branca é sempre mais pragmática do que protocolar. E, neste caso, o silêncio e os “detalhes não divulgados” da agenda de Gamble falam mais alto do que qualquer nota diplomática. Sim, alguém será sancionado. A dúvida é quem, quando, se tem cabelo ou não. O bolão está armado.
Há quem acuse essa postura de ser uma ingerência externa nos assuntos internos do Brasil. Mas é justamente quando as instituições locais falham em proteger os direitos dos cidadãos que o olhar externo se torna legítimo. A lei “No Censors on our Shores Act”, atualmente em discussão no Congresso americano, é um recado direto aos operadores do autoritarismo jurídico: vocês não são bem-vindos nas terras da liberdade. Os EUA não estão interessados em sancionar o Brasil. Estão interessados em sancionar quem, em nome do Brasil, trai seus princípios democráticos.
Enquanto isso, o governo Lula finge normalidade e silencia. Celso Amorim, velho conhecido das manobras diplomáticas da esquerda latino-americana, sequer tem reunião marcada com a comitiva americana. É como se Brasília tentasse evitar um confronto direto, numa tentativa patética de varrer a sujeira institucional para debaixo do tapete. Mas o tapete está levantado — e o mundo inteiro está olhando. A postura dos republicanos no Congresso americano, alinhada com a denúncia de censura, perseguição política e prisão de adversários, deixa claro que a América de Trump não aceitará passivamente a consolidação de uma ditadura judicial disfarçada de democracia tropical.
O mais irônico de tudo isso é ver a esquerda brasileira, historicamente crítica ao “imperialismo americano”, agora se escondendo atrás da retórica da soberania nacional para justificar o injustificável. A verdade é que não há soberania sem liberdade. E o Brasil, hoje, vive sob o jugo de um sistema onde discordar pode levar à prisão, onde plataformas são derrubadas por ordem de um único homem e onde políticos opositores se tornam réus por “narrativas golpistas” que não têm pé nem cabeça.
David Gamble ainda não jogou suas cartas. Mas o jogo está em andamento. Caso as sanções venham — e que sejam direcionadas aos verdadeiros infratores da liberdade, não ao povo brasileiro. O Brasil precisa, mais do que nunca, de aliados que tenham coragem de chamar os abusadores pelo nome. E, felizmente, desta vez, parece que alguém no mundo está escutando o pedido de socorro dos brasileiros.