O ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta terça-feira (8) que a responsabilidade pela inflação elevada no Brasil é do Governo Federal, e não do setor privado. Em entrevista à Rádio Jovem Pan, ele criticou os gastos públicos acima da arrecadação e ressaltou que os empresários e consumidores acabam arcando com as consequências. “A inflação, no final das contas, é culpa do governo. É um processo em que você gasta mais do que arrecada”, disse Campos Neto, que está em quarentena após deixar o comando do BC em dezembro de 2024.
Campos Neto também defendeu uma visão mais atualizada sobre o mercado de trabalho, criticando as tentativas do governo de impor modelos tradicionais. Segundo ele, a juventude prefere flexibilidade e autonomia em vez de regras rígidas impostas por sindicatos ou legislação trabalhista ultrapassada. “Eu não quero que você diga como vou trabalhar, eu quero que você melhore um instrumento de trabalho que eu tenho”, declarou, ao defender regras que favoreçam atividades digitais, serviços por aplicativo e trabalho remoto.
As declarações ocorrem em meio à divulgação de novos dados fiscais negativos. O Banco Central informou que o setor público consolidado teve déficit primário de R$ 18,97 bilhões em fevereiro, puxado por um rombo de R$ 28,5 bilhões no Governo Federal. No acumulado de 12 meses, o déficit nominal alcançou R$ 939 bilhões — o equivalente a 7,9% do PIB — e a dívida pública subiu para 76,2% do PIB. Apesar do arcabouço fiscal aprovado em 2023, a previsão do mercado é de que a dívida alcance 92,7% até 2034, o que compromete ainda mais a credibilidade econômica do país.