Margaret Thatcher dizia que o socialismo só dura até acabar o dinheiro dos outros. No caso da China, esse dinheiro vinha, há décadas, das engrenagens do capitalismo americano. O que estamos testemunhando agora, com as novas e duríssimas tarifas impostas por Donald Trump, é o início do fim da farra econômica do Partido Comunista Chinês – e o mundo, inclusive o Brasil, já sente os abalos dessa mudança.
O que o governo Trump fez, ao taxar produtos chineses em mais de 100%, foi colocar um basta na dependência que Pequim criou em relação ao mercado consumidor dos Estados Unidos. Enquanto vendia de tudo para os americanos — de brinquedos a eletrônicos — a China reinvestia seus lucros em um projeto geopolítico autoritário, expansionista e incompatível com os valores democráticos do Ocidente. Ao fechar essa torneira, os EUA não apenas protegem seus empregos, mas também desafiam diretamente um regime que jamais escondeu seu desprezo por liberdades individuais e pela livre iniciativa.
Agora, o regime de Xi Jinping corre contra o tempo tentando maquiar os danos. Manipula sua moeda, controla bancos estatais, impõe restrições à compra de dólares e faz malabarismos fiscais para manter a aparência de normalidade. Mas a verdade é que a economia chinesa já vinha trincada: uma bolha imobiliária à beira da explosão, desemprego em massa entre jovens e um consumo interno anêmico. As tarifas americanas foram apenas o empurrão que faltava para escancarar a fragilidade de um sistema econômico que, por trás da aparência tecnológica, continua sendo centralizador, opaco e ineficiente.
Para o Brasil, os efeitos vêm em ondas. De um lado, o dólar dispara — bateu R$6,00 — pressionando o custo de vida do brasileiro comum. Por outro, abre-se uma janela de oportunidade histórica para o agronegócio e setores produtivos que queiram ocupar o espaço deixado pela China nos mercados ocidentais. Mas isso exige planejamento, infraestrutura e segurança jurídica — algo que o Brasil precisa garantir com urgência se quiser ser mais que um exportador improvisado.
É hora de escolher de que lado da história queremos estar. A retórica de “terceira via” ou de neutralidade não serve mais. O mundo está cada vez mais polarizado entre democracias liberais e regimes autoritários. Alinhar-se comercial e politicamente com os Estados Unidos e seus aliados significa abraçar uma agenda de liberdade econômica, inovação tecnológica e respeito ao indivíduo, com a qual o atual governo brasileiro parece não compactuar. Já apostar na China — um regime que persegue minorias, censura dissidentes e manipula mercados — é dar as costas a tudo que aprendemos com as crises do século XX.
Além disso, há uma lição maior aqui: os frutos do capitalismo não devem sustentar os tentáculos do comunismo. A abertura econômica chinesa foi tolerada por muito tempo, na esperança de que uma China rica se tornasse também uma China livre. Isso não aconteceu. Ao contrário, o Partido Comunista fortaleceu sua máquina repressiva com o dinheiro do Ocidente. Trump entendeu isso. E, por mais que se questione seu estilo, a estratégia está funcionando.
Se o Brasil quiser surfar essa nova maré global, precisa parar de olhar para a China como um parceiro eterno e começar a tratá-la como o que de fato é: um competidor geopolítico com valores opostos aos nossos. O futuro pertence aos países que souberem produzir, sim, mas que também souberem com quem negociar. E, mais do que nunca, essa escolha não é só comercial. É moral.