É revelador que Lula precise recorrer ao Supremo Tribunal Federal para tentar manter de pé um aumento de impostos já rechaçado pelas duas Casas do Congresso. Sem apoio popular, que sofre com a maior carga tributária em 15 anos,e cada vez mais isolado entre os próprios parlamentares, inclusive aqueles que antes orbitavam o Planalto, Lula escancara a fragilidade de um governo que já não se sustenta na política nem no convencimento. Quando um presidente depende do Judiciário para impor sua agenda, não há dúvida: o governo entrou em modo de sobrevivência.
A pesquisa Quaest, que ouviu 203 deputados federais, mostra que 46% consideram o governo Lula negativo. Entre os parlamentares de direita, esse índice dispara para 86%. No Sul e no Sudeste, regiões que sustentam a economia brasileira, a rejeição ao governo já é majoritária. Ou seja: Lula perdeu o respaldo de quem trabalha, de quem investe e de quem legisla. E quando insiste em empurrar decretos para elevar tributos como o IOF, contrariando acordos firmados e desrespeitando a vontade soberana do Parlamento, o resultado natural é a derrota, política e moral.
Ao invés de refletir sobre seus próprios erros, Lula reforça o discurso maniqueísta que sempre usou como escudo: os “pobres contra os ricos”, o “povo contra a elite”, e agora, “o Executivo contra o Congresso”. Acusou os parlamentares de agirem em nome de interesses privados, apelou para a retórica da “justiça social” e insinuou que, sem o STF, não teria mais como governar. Isso não é governar dentro da democracia: é contorná-la. O Judiciário não deve servir como ferramenta para impor medidas impopulares e rejeitadas por representantes eleitos.
Encurralado pela impopularidade, Lula busca no autoritarismo institucional a sustentação de um mandato cada vez mais desconectado da realidade do país. Mais grave ainda é o papel de figuras do judiciário e partidos como o PSOL, dispostos a reinterpretar a Constituição em favor de um governo que já perdeu o apoio do Congresso. A judicialização da política, outrora denunciada com razão, agora é utilizada como arma política quando interessa ao Planalto.
Enquanto isso, a sociedade brasileira é quem paga a conta. A carga tributária chegou a 32,3% do PIB, um recorde em uma economia que ainda engatinha. Sem retorno visível em infraestrutura, segurança ou saúde, a classe média já se vê estrangulada por tributos, burocracia e por um discurso que a culpa por não querer pagar ainda mais. As ruas podem até estar silenciosas, mas o mal-estar cresce. E essa indignação, mesmo que contida, costuma se manifestar com força nas urnas.
Em 2026, se o cenário permanecer o mesmo, dificilmente Lula terá musculatura política para eleger um sucessor, ou sequer resistir a um candidato de direita minimamente competitivo. O PT se tornou prisioneiro de sua própria bolha ideológica, incapaz de dialogar com o agronegócio, com o setor produtivo, com as famílias que apenas desejam previsibilidade, liberdade econômica e menos Estado. Bolsonaro ainda representa esses grupos — e, como mostra Trump nos Estados Unidos, o conservadorismo tem plena capacidade de voltar ao poder depois de governos progressistas. A diferença é que, por lá, os adversários não são impedidos de concorrer, o que revela outro traço preocupante da nossa realidade.
O Brasil precisa de equilíbrio: menos intervenção, mais responsabilidade fiscal, e um Executivo que respeite os limites constitucionais. Se Lula não consegue entregar isso, 2026 será o ano da virada. Porque um governo que perdeu o povo e o Congresso não se sustenta por muito tempo, nem mesmo com a proteção do STF.