Em pleno fechamento de um acordo do Mercosul com a União Europeia, pode gerar-se uma crise interna no bloco sul-americano com a chegada de Javier Milei como novo presidente da Argentina, por conta da proximidade ideológica que um dos membros do bloco, o presidente uruguaio Lacalle Pou, que vem mostrando inconformidade e incomodidade com a burocracia do Mercosul.
Pou defende uma flexibilização das regras do bloco, que recentemente avançou num tratado importantíssimo com a União Europeia, um dos maiores parceiros comerciais do mundo. A flexibilização do líder uruguaio tem a ver com a capacidade de fazer acordos comerciais com a China, e o poder de decidir os termos destes.
A entrada do Javier Milei como novo líder na região traz por um lado, apoio a Lacalle mas também traz tensões pela proximidade ideológica que tem entre si. Além disso, Milei tem falado várias vezes contra líderes do bloco como Brasil, mostrando intenções de gelar relações. Todavia, essa proximidade de Lacalle com Milei tem seus limites, pois enquanto Milei se nega a negociar com “países comunistas” como a China, Lacalle pede autonomia na hora de tratar com o gigante asiático. Inclusive, em uma cúpula no Uruguai, Milei disse em tom crítico que se estivesse no poder, eliminaria o Mercosul e não aceitaria “nada de flexibilidade como reclama o governo uruguaio”.
Porém, a possível chanceler de Milei, Diana Mondino, discorda da posição de Milei e fala em “revitalizar o Mercosul”, uma posição mais ou menos compatível com a de Lacalle, pois “nem o mundo nem os países do Mercosul têm as mesmas necessidades ou oportunidades que quando o Mercosul foi gerado”. “Teríamos que alcançar força unificando nossas posições, em vez de competir entre nós pelos mercados”, acrescentaria Mondino.
A fala da possível chanceler vem se alinhando com uma realidade que se desenvolve na Argentina e no Uruguai de duas formas: por um lado, na Argentina, Milei vai precisar do apoio do Congresso para mudar a posição do país em relação ao bloco ou sequer a atividade da Argentina nele. Por outro, Uruguai terá eleições em 2024 e a esquerda, tem por enquanto, melhores números que a direita – essa realidade funciona como um freio nas pretensões mais “disruptivas” no grupo de países.
Por enquanto, Milei na qualidade de presidente-eleito, não tem falado sobre a posição oficial do seu novo governo em relação ao Mercosul.