A recente sinalização de apoio financeiro dos Estados Unidos ao governo argentino de Javier Milei provocou uma reviravolta no humor dos investidores. Após semanas de tensão provocadas por derrotas eleitorais nas províncias, o anúncio de um possível pacote de US$ 20 bilhões por parte do presidente Donald Trump e do secretário do Tesouro, Scott Bessent, trouxe alívio imediato aos mercados.
Na terça-feira (23), o peso argentino teve uma valorização expressiva de 5% frente ao dólar, enquanto o índice Merval — principal termômetro da bolsa de Buenos Aires — subiu quase 4%, recuperando parte das perdas recentes. A cotação do dólar caiu para 1.367,11 pesos, refletindo a nova confiança dos investidores.
Segundo relatório do Bradesco BBI, o nível de comprometimento dos EUA com a Argentina é inédito na história recente do país. O banco avalia que os recursos funcionam como uma espécie de “colchão financeiro”, garantindo fôlego à administração Milei até que o setor energético consiga gerar superávits comerciais mais robustos.
A Argentina enfrenta uma dívida de cerca de US$ 14 bilhões com o FMI e tem vencimentos de aproximadamente US$ 37 bilhões entre 2026 e 2027. O suporte americano, somado à possibilidade de crédito emergencial via Exchange Stabilization Fund, reduz o risco de inadimplência no curto prazo e ajuda a estabilizar o câmbio e os ativos locais.
O índice Merval, que vinha pressionado após o avanço do peronismo nas eleições provinciais, apresenta um múltiplo P/L de 6,8 vezes — nível historicamente associado a períodos de baixa confiança, como os governos kirchneristas. No entanto, o BBI vê espaço para valorização, caso haja melhora na percepção política e no fluxo de capitais antes das eleições de outubro.
O gesto de apoio dos EUA à Argentina não apenas reacendeu o otimismo no mercado financeiro, como também reposicionou o governo Milei no tabuleiro geopolítico latino-americano. Embora o cenário ainda exija cautela, o pacote bilionário representa uma janela de oportunidade para estabilizar a economia e reconquistar a confiança dos investidores. Se bem aproveitado, pode ser o ponto de virada que o país precisava.