O presidente do Paraguai, Santiago Peña, emitiu um ultimato nesta semana, afirmando que a conclusão do acordo de livre comércio entre a União Europeia (UE) e o Mercosul deve ocorrer até 6 de dezembro deste ano. Caso isso não aconteça, Peña deixou claro que seu país não continuará as negociações no próximo semestre.
O ultimato de Peña está relacionado ao fato de que, em 6 de dezembro, o Brasil passará a presidência rotativa do Mercosul para o Paraguai. A partir dessa data, Peña indicou que pretende concentrar-se em acordos comerciais menos complexos com outros países, como Singapura e Emirados Árabes Unidos (EAU).
As negociações entre a UE e o Mercosul têm se arrastado por mais de duas décadas, com desafios significativos relacionados ao comércio agrícola e preocupações ambientais, que têm dificultado o progresso do acordo.
Peña enfatizou que a responsabilidade de dar o passo decisivo para a conclusão do acordo está nas mãos dos europeus. Ele declarou: “Nesse acordo comercial, não se trata mais de uma discussão técnica, é uma decisão política, e isso não está do lado do Mercosul, mas do lado da União Europeia.”
O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, também expressou o desejo de ver o acordo concluído até dezembro, mas tem enfrentado obstáculos, incluindo demandas europeias relacionadas à abertura do mercado de compras governamentais e preocupações ambientais.
Na terça-feira, em entrevista ao programa Conversa com o Presidente, Lula reiterou a importância das compras governamentais para o Brasil no contexto do acordo, afirmando: “O Brasil não abre mão das compras governamentais no acordo com a União Europeia. Se fizermos isso, vamos ‘matar’ a indústria nacional.”
A Comissão da UE em Bruxelas não quis comentar as falas de Peña, mas o porta-voz da comissão europeia responsável pelo comércio e agricultura, Olof Gill, destacou que as negociações continuam em andamento com base no compromisso assumido para concluir o acordo antes do final do ano.
Os principais críticos do acordo na Europa são os países com grandes setores agrícolas, que temem uma concorrência prejudicial aos preços e preocupações relacionadas ao desmatamento na América do Sul.
A perspectiva geopolítica do acordo é considerada importante tanto pela UE quanto pelos países do Mercosul, com a UE buscando maior independência em relação a outros países, como China e Rússia, e os países do Mercosul buscando diversificação econômica. A conclusão do acordo poderia fortalecer as relações entre as duas regiões e criar um mercado de 270 milhões de pessoas.
Apesar dos desafios e da pressão do Paraguai, muitos acreditam que um acordo final será alcançado até o final do ano, impulsionando as relações comerciais e geopolíticas entre a UE e o Mercosul.