Há momentos na história em que a diplomacia simplesmente vira abobrinha, com conversas, resoluções da ONU, visitas de chanceleres e acenos de paz que se tornam ruído branco diante de ameaças existenciais. A recente guerra entre Israel, Irã e os Estados Unidos — temporariamente interrompida por um cessar-fogo — é um desses momentos. A retórica da paz foi superada por uma realidade brutal: diante ameaças de regimes terroristas que desafiam a ordem internacional com armas nucleares, a única linguagem compreendida é a da pólvora.
O Irã, há décadas, acena com seu programa nuclear como um escudo ideológico, afirmando ser pacífico, mas mantendo uma postura agressiva contra Israel — inclusive declarando repetidamente o desejo de ver o país “apagado do mapa”. Esse não é o comportamento de um governo (se é que podemos chamá-lo assim) que busca estabilidade regional, mas sim de um regime teocrático que, que se sustenta por grupos terroristas como Hamas e Hezbollah, desafia abertamente o Ocidente, e é amparado por regimes igualmente autoritários como o de Vladimir Putin na Rússia.
Os ataques coordenados dos EUA e de Israel, que resultaram em danos substanciais às instalações nucleares iranianas, foram, neste cenário, menos uma agressão do que uma resposta inevitável. Donald Trump, ao comparar a ação à decisão dos EUA em Hiroshima e Nagasaki, talvez tenha soado duro demais para ouvidos sensíveis. Mas a analogia é, em essência, correta: foi uma demonstração de força decisiva para evitar um mal maior.
A reação de Teerã, com uma resposta simbólica e anunciada de antemão, mostra que o regime está recuando, ao menos temporariamente. Mas a guerra, embora aparentemente suspensa, está longe de terminada. Quando um Estado patrocina o terrorismo como ferramenta de política externa e mantém um programa nuclear sem controle, a ameaça é permanente. O mundo livre não pode se dar ao luxo de esperar pelo próximo míssil ou pela boa-fé de quem não acredita na convivência pacífica.
E o Brasil? Eis a questão incômoda. O país representado por Lula, que já flertou perigosamente com o regime iraniano no passado — e que hoje não esconde simpatia por qualquer ditadura sob o disfarce de “multipolaridade” — encontra-se numa encruzilhada moral e estratégica. O tempo da neutralidade acabou. Em tempos de definição entre liberdade e autoritarismo, entre o respeito à liberdade e o conluio com ditaduras, não há espaço para cima do muro.
A insistência do governo brasileiro em manter relações amistosas com Teerã, Moscou e até Pequim pode custar caro. As alianças importam. E a recusa em condenar o programa nuclear iraniano — ou o silêncio diante do uso de grupos terroristas como braços estatais — não apenas enfraquece a imagem do Brasil no Ocidente, como o alinha perigosamente com o lado errado da história.
Trump e Netanyahu entenderam que, em certos contextos, a paz só é possível quando os inimigos da paz são colocados em seus lugares. É desconfortável, mas é real. O Ocidente, se quiser sobreviver como tal, precisa se unir — não em torno de discursos vazios, mas em ações concretas que desarmem, no sentido literal, os regimes que ameaçam a ordem internacional.
O Irã, ao desafiar a convivência internacional, mostrou ao mundo o que acontece quando se abusa da paciência do outro. A resposta veio em forma de mísseis — e com ela, uma oportunidade de redefinir as linhas vermelhas. Cabe agora ao mundo — e ao Brasil, hoje praticamente desgovernado — decidir de que lado está.