Uma nova lei que está prestes a ser votada no Congresso pode mudar o cenário dos jogos de azar no Brasil. O Projeto de Lei (PL 2.234/2022) dos jogos de azar, que busca legalizar e regulamentar diversas modalidades de apostas, tem gerado temores. Entre os beneficiados pela possível aprovação da lei está o popular “Jogo do Tigrinho”. Este cassino online, também conhecido como “Fortune Tiger”, tem sido promovido por influenciadores digitais e, embora ilegal atualmente, já acumula uma base significativa de jogadores.
Vários perfis de usuários com muitos seguidores nas redes sociais têm sido patrocinados por esses esquemas de jogos online por quantias bem mais altas que o mercado publicitário costumeiramente paga por divulgação online. Celebridades brasileiras como Gusttavo Lima, Neymar Jr., Ronaldo Nazário, Anitta, Bruna Marquezine, Felipe Neto e Giovanna Ewbank têm se envolvido com endossos de jogos de azar. Dá para imaginar a montanha de dinheiro que é tirada dos incautos jogadores.
A Polícia Civil do Maranhão, em dezembro de 2023, lançou a Operação Game Over para investigar o esquema criminoso. Influenciadores digitais, que recebiam contas “demo” com ganhos garantidos para encorajar seguidores a apostar, estão sendo investigados. A operação resultou no bloqueio de R$ 38 milhões dos investigados e na apreensão de bens de luxo.
Enquanto isso, o spam promovendo o “Jogo do Tigrinho” continua a atormentar usuários no Instagram, criando uma experiência negativa. A Meta está trabalhando para limitar esse spam, proibindo conteúdo enganoso.
O cheiro dessa dinheirama toda atrai cada vez mais influencers e golpistas, que fazem fila por estes patrocínios que pagam mais que as atividades legais produtivas ou especulativas no Brasil.
Lula se apressou dizendo que não vai vetar.
Em uma reviravolta típica das novelas políticas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que sancionará a PL 2.234/2022, que legaliza os jogos de azar no país, mesmo declarando-se contrário à prática. Isso antes mesmo da possibilidade ou não da aprovação da lei pelo Congresso.
“Não tem por que não sancionar”, disse. “Se o Congresso aprovar e for feito um acordo entre os partidos políticos e for aprovado, não tem por que não sancionar. Não acho que é isso que vai resolver o problema do Brasil. Essa promessa fácil de que vai gerar 2 milhões de empregos, que vai desenvolver, não é verdade também”, declarou Lula.
Embora tenha expressado sua aversão aos jogos de azar, Lula mencionou que não vê o jogo do bicho como um grande problema e questionou a regulamentação de outras formas de apostas já existentes. Ele destacou que a legalização não resolverá os problemas do Brasil, mas poderia regulamentar uma atividade amplamente praticada.
Essa mudança de tom camaleônica é bem ao estilo do Lula.
Foi o caso da taxação de compras internacionais de até US$ 50. Lula disse que é pessoalmente contra a taxa das blusinhas, mas não vetou o que, segundo ele, “prejudica a parcela mais pobre da população”. “Assumi compromisso com Haddad”, disse ainda. “Estou fazendo isso pela unidade do Congresso e do governo e das pessoas que queriam”, completou.
No âmbito legal, a legalização dos jogos de azar está em debate. O PL 2.234/2022, aprovado pela CCJ com 14 votos a favor e 12 contra, permite a exploração de jogos de azar em todo o país, incluindo cassinos em polos turísticos e a revogação da lei que criminaliza o jogo do bicho desde 1946.
A medida pode trazer implicações significativas. Especialistas alertam que o vício em jogos é semelhante à dependência química, necessitando de acompanhamento médico e psicoterápico.
O esquema de recrutamento de celebridades para o “Jogo do Tigrinho” funciona da seguinte maneira:
- Influencers e Propaganda: Influenciadores digitais são contratados para promover o jogo ilegal de apostas online, utilizando suas redes sociais para atrair novos jogadores com a promessa de ganhos rápidos.
- Esquema de Pirâmide: O jogo está associado a um esquema de pirâmide financeira, onde os participantes são recrutados com a promessa de altos retornos, mas na realidade, poucos recebem grandes pagamentos.
- Ganhos dos Influencers: Os influenciadores com menos seguidores podem ganhar entre R$ 5 mil e R$ 15 mil por campanha de sete dias de divulgação, além de receberem comissões por cada novo cadastro no jogo. Os grandes influenciadores como artistas, cantores e celebridades diversas recebem dezenas de milhões de reais e em alguns casos uma comissão por cada perda financeira do jogador.
- Movimentação Financeira: Em apenas seis meses, um grupo de influenciadores movimentou cerca de R$ 12 milhões através da plataforma de jogos.
- Comparação com a Bolsa: A participação em apostas online como o “Jogo do Tigrinho” é sete vezes maior do que o número de indivíduos que investem em ações na bolsa brasileira.
Recentemente uma plataforma de apostas online chamada “Blaze” enfrentou uma série de problemas com seus usuários, que incluíam alegações de não pagamento de prêmios e falta de resposta a reclamações. A Blaze acumulou mais de 5.770 reclamações e processos judiciais, principalmente relacionados a saques e dificuldades dos clientes em receber seu dinheiro. A Justiça paulista bloqueou R$ 101 milhões da empresa e pediu a retirada do site do ar.
Por fim, apesar do entusiasmo de Lula em sancionar a lei, antecipando até sua sanção sem saber (ou sabendo) se será aprovada, resta ver como essa nova legislação será implementada e seus reais impactos. Em um país onde o “jeitinho” frequentemente vence a regulamentação e celebridades tem consciências compradas, o futuro dos jogos de azar legalizados permanece uma aposta arriscada.