O vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin (PSB), voltou a defender a redução da jornada de trabalho no Brasil, mesmo diante do cenário de baixa produtividade industrial e elevada carga sobre os cofres públicos. Em evento com parlamentares da Frente do Empreendedorismo nesta terça-feira (6), Alckmin afirmou que “há uma tendência mundial de redução da jornada de trabalho”, sustentando que os avanços tecnológicos permitem esse movimento. A fala ocorre em meio a pressões do governo Lula (PT) por mudanças na escala 6×1, em um momento de fragilidade fiscal.
Embora o discurso sobre jornadas mais curtas esteja alinhado com a retórica de bem-estar social do Palácio do Planalto, o país enfrenta um modelo de gasto público que acumula décadas de desequilíbrio estrutural. O novo Arcabouço Fiscal, instituído em 2023, ampliou os limites de despesas, mas pouco avançou no controle efetivo das contas. Mesmo regras como a Lei de Responsabilidade Fiscal e o teto de gastos já vêm sendo sistematicamente desrespeitadas, especialmente por setores do funcionalismo público. A falta de disciplina orçamentária compromete iniciativas que demandam mais recursos sem apontar fontes claras de financiamento.
O impulso por mudanças nas relações de trabalho ocorre enquanto a produtividade da indústria de transformação segue em declínio. Dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) indicam que, em 2024, houve queda de 0,8% na produtividade, apesar do aumento de 4,5% nas horas trabalhadas. Desde 2019, a retração acumulada chega a 9%. A proposta de flexibilizar a jornada sem considerar esse contexto pode agravar a perda de competitividade. Enquanto isso, o governo prioriza o avanço da pauta no Congresso, como indicou a ministra Gleisi Hoffmann (PT): “Queremos ouvir todos os setores. Com diálogo e decisão política, é possível avançar”.