Provavelmente sim. Francisco se foi — para a alegria de uma parte considerável de diversas correntes da Igreja Católica que não o suportavam.
O argentino, progressista e reformista, que aceitava a todos, conquistou muitas inimizades dentro do clero por conta desse “abraço fraterno” estendido a todo tipo de pessoa que buscava o auxílio espiritual da Igreja.
E ele estava certo. Não faz sentido alguém que prega o amor separar as pessoas por serem divorciadas ou homossexuais. Francisco era um bom pastor, um homem simples diante das extravagâncias da Igreja Católica.
Ele, que veio do “fim do mundo”, como disse em sua posse há 12 anos, mostrou-se alguém profundamente humano. Antigamente, víamos os papas como figuras intocáveis, quase deuses no Olimpo. Francisco não — era de riso frouxo, piadista, brincalhão com todos. Era um de nós. Talvez, por ser latino, tivesse essa empatia maior do que os “frios” europeus que tradicionalmente ocuparam o trono de São Pedro.
Lembro-me de sua primeira visita ao Brasil, andando pelas ruas do Rio de Janeiro em um Fiat Idea, de janelas abertas, conversando com todos. Vejam só: ficou preso no trânsito.
Mas creio que esse “homem comum” já não seja mais o perfil desejado pelo clero. Vejo uma Igreja inclinada a alguém com uma identidade mais conservadora, alinhada às correntes que sempre deram as cartas em Roma.
Posso estar errado? Claro. Afinal, quem entra papável sai cardeal. Mas, se tivesse que apostar, pensaria em Pietro Parolin, cardeal e Secretário de Estado do Vaticano. Não é uma figura radical, era próximo de Francisco e, além disso, italiano — o que acredito ser um ponto relevante nesta escolha.
Mas as correntes radicais estão aí. Talvez o anel de ouro e os sapatos vermelhos da Prada voltem a ser moda no Vaticano após este Conclave.