Em um movimento desafiador à administração Trump, o ministro Alexandre de Moraes tem se posicionado como uma figura de confronto com os Estados Unidos de maneira que nem mesmo regimes ditatoriais historicamente antagonistas a Washington ousaram. Enquanto países como Irã, Coreia do Norte, Cuba e Venezuela evitam provocações diretas ao governo Trump, o ministro brasileiro emerge como protagonista de uma crise diplomática em ascensão, correndo o risco de sofrer sanções econômicas e restrições impostas por um dos principais aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro – com quem o alto escalão do governo norte-americano mantém uma relação de amizade, segundo declaração recente do próprio chefe da Casa Branca.
O estopim desse embate foram as decisões de Moraes contra plataformas digitais como X (antigo Twitter) e Rumble, alvos de bloqueios e multas por se recusarem a cumprir determinações judiciais brasileiras. Essas medidas, além de afetarem as operações das empresas, teriam implicações fora da jurisdição do Brasil. A tensão escalou quando Elon Musk, bilionário e agora figura influente dentro do governo Trump, usou sua própria rede social para questionar se Moraes possuía bens nos EUA, insinuando a possibilidade de confisco desses ativos caso o ministro fosse incluído na lista de sanções americanas.
O discurso de Moraes, no qual acusa as grandes plataformas de disseminarem uma “ideologia fascista”, foi recebido nos EUA como um ataque direto às empresas americanas e um desrespeito às normas de soberania digital do país. Parlamentares republicanos e assessores próximos a Trump intensificaram a pressão para que o ministro fosse alvo da Lei Magnitsky, mecanismo utilizado para punir indivíduos considerados violadores dos direitos humanos e inimigos da liberdade de expressão.
A ironia da situação é evidente: regimes tradicionalmente hostis aos EUA têm evitado provocações tão diretas. O Irã, por exemplo, apesar de sua retórica beligerante, tem buscado formas de melhorar a relação com Washington. A Coreia do Norte tem limitado suas interações a provocações militares esporádicas, sem desafiar diretamente empresas ou instituições americanas. Cuba e Venezuela, historicamente adversárias dos EUA, não chegaram a desafiar ativamente a soberania digital e a liberdade de operação de empresas americanas, como Moraes parece estar disposto a fazer.
Essa escalada pode ter consequências sérias para as relações entre Brasil e Estados Unidos. O Itamaraty tem sido pressionado a intervir para conter a crise, mas qualquer movimentação diplomática pode ser interpretada como um reconhecimento da gravidade do conflito iminente entre os dois países. No STF, já se discute a necessidade de uma resposta formal ao governo americano para evitar que a campanha de desmoralização contra Moraes se transforme em um ataque institucional à Justiça brasileira como um todo, atingindo outros ministros.
A administração Trump, por sua vez, tem motivações políticas para amplificar essa disputa. Com a aproximação das eleições no Brasil e o interesse crescente de Trump em fortalecer laços com a direita conservadora internacional, Moraes se tornou um alvo conveniente. Seu papel nos processos contra Bolsonaro o transformou em um símbolo da resistência institucional ao avanço da direita, tornando-o um antagonista ideal para a campanha política em que Bolsonaro busca concorrer, caso consiga reverter a inelegibilidade imposta pelo próprio STF.
O que está em jogo não é apenas o destino de um magistrado, mas o futuro das relações entre Brasil e Estados Unidos sob um novo paradigma de enfrentamento político, que pode resultar em sanções contra integrantes da Justiça, do governo e até mesmo contra cidadãos brasileiros, caso a retaliação do governo Trump se estenda ao campo comercial. Se as sanções contra Moraes forem adiante, o Brasil poderá se ver em uma situação sem precedentes, na qual um alto representante de um dos três poderes do país é tratado como um pária por Washington. O desfecho desse embate ainda é incerto, mas uma coisa é clara: Moraes está comprando uma briga que nem mesmo os regimes mais desafiadores dos EUA tiveram coragem de enfrentar.