“Brigar por política no Brasil é o mesmo que ter uma crise de ciúmes na zona”. A frase é de Otaviano Pivetta, ex-vice-governador do MS, e reflete o sentimento de boa parte dos brasileiros após a ressaca das eleições para as presidências da Câmara e Senado.
A união entre direita e esquerda para elegerem Davi Alcolumbre e Hugo Motta deixa claro o fortalecimento do pragmatismo político que alimenta o Centrão – grupo político formado por deputados de diferentes partidos, que se unem para conseguir maior influência no parlamento e defender seus interesses. Princípios filosóficos e apelos populares passam bem longe do clã.
O Brasil das ruas, da bandeira verde e amarela, do agro que projeta o PIB, dos empresários que geram empregos em meio ao manicômio tributário tupiniquim, constatou que quem manda no país é o Centrão. E o brasileiro, que perde cinco meses de trabalho somente para pagar impostos, financiou a festa da turma da galhofa, no jardim de Hugo Motta.
E nesse balaio de embusteiros profissionais, o novo presidente do Senado, eleito pela insignificância patriótica, atropela sem se eximir de culpa o português ao exibir a pompa do cargo. Com ele, está o destino de 220 milhões de brasileiros.
A eleição secreta do Congresso contraria todos os princípios de transparência ao eleitor, que não tem o direito de saber o que o candidato faz com o mandato concedido pelo povo. O pleito, longe dos padrões éticos e cercado por acordos escusos, provocou atrito entre alas divergentes da direita, que trocam farpas entre si. Nas redes sociais, internautas os dividem entre “traidores e traídos”, se esquecendo que democracia é a convivência dos contrários, e que o inimigo é outro.
Se de um lado Marcel Van Hatten, Ricardo Salles e Eduardo Girão defendem suas convicções e ideais com o voto de repúdio ao ‘mis en scène’ centrista, do outro, apoiadores de Bolsonaro confiam que o pragmatismo político é a porta para que o ex-presidente se torne elegível em 2026, por meio de mudanças na Lei da Ficha Limpa ao reduzir o tempo de inelegibilidade por crimes eleitorais de 8 para 2 anos. Entretanto, à ala do Centro interessa apenas entregar o boleto ao governo petista. E viva o aclamado orçamento secreto.
Ao recém-eleito engavetador- geral da República, cabe a negligência e inércia que lhe são habilitadas. Aos pusilânimes do Centro segue a missão de não deixar que o país afunde, porém, lhe podar toda sorte de avanço futuro. A conivência e a ganância são freios usados pelo grupo para o esboroamento da esperança verde-amarela. A origem parlamentar do Brasil segue sendo degradada pela desqualificação crescente do legislativo e o exacerbado abuso dos poderes, sem contrapesos.
Aos cidadãos, resta saber qual Brasil sobrará a defender. Pois o que está errado, pode ser certo, afinal é para o bem do povo. Quanta bondade.