Eu realmente detesto falar sobre religião. Nem seria o tema da minha coluna desta semana — eu pretendia abordar a prisão do ex-presidente Fernando Collor. No entanto, minha irritação com o caso do jovem autodenominado “missionário” foi tão grande que decidi mudar o foco. O psicopata do Collor pode ficar para uma outra oportunidade.
Miguel Oliveira, 15 anos, membro da Assembleia de Deus Avivamento Profético. Poderia ser apenas mais um adolescente estudando, jogando bola ou videogame, mas decidiu seguir outro caminho: se apresentar como um “mini profeta”. Até aí, não é novidade — já vimos crianças pregando, orando, lendo a Bíblia. Mas esse garoto vai além: promete curas, rasga exames médicos, e chega a minimizar doenças graves como a leucemia.
Quero deixar claro que este post não é um ataque à religião. Respeito todas e acredito que esse respeito deve ser mútuo. Para mim, religião é um assunto sagrado e pessoal. Também não estou promovendo discurso de ódio — trata-se apenas de uma análise crítica, ainda que dura, sobre um caso que considero preocupante.
As redes sociais estão repletas de vídeos do garoto falando em “línguas estranhas”, inclusive fazendo “tradução simultânea” de um senhor — que, ao que parece, é seu pai. Se for, preocupa ainda mais: ele deveria estar protegendo o filho, não incentivando comportamentos questionáveis. Miguel pede ofertas em dinheiro, conta histórias inacreditáveis — como a de que nasceu surdo, mudo, sem tímpanos nem cordas vocais — e se expressa com uma eloquência que impressionaria até locutores de supermercado.
Chega a repreender quem diz: “Não preciso de pastor, porque Jesus é meu pastor”, contrariando diretamente o Salmo 23 da própria Bíblia. Em um podcast, ao ser confrontado pelo apresentador sobre a possibilidade de que suas alegações de enfermidades no nascimento fossem falsas, o ‘prodígio religioso’ respondeu que “infelizmente perdeu” o laudo.
Mas quem parece ter perdido o bom senso — ou a responsabilidade — são ele e os responsáveis por ele. Aos 15 anos, o caráter já começa a dar sinais claros. Basta lembrar de Suzane Von Richthofen, que com idade semelhante já tramava um dos crimes mais brutais da nossa história.
Repito o coro de muitos profissionais da mídia: esse garoto é um picareta. Não há outro nome para isso.
Sou contra ameaças e agressões, mas totalmente a favor de uma investigação séria por parte do Ministério Público e, por ele ser menor de idade, do Conselho Tutelar também.
Rasgar exames e prometer “filtrar o sangue” de alguém que sofre de leucemia é gravíssimo. Pior ainda é saber que muitas das vítimas dessas práticas estão em desespero, buscando qualquer sinal de esperança — e ser explorado nesse momento de vulnerabilidade é uma das atitudes mais baixas que se pode ter.
É urgente frear esse tipo de conduta antes que ganhe ainda mais espaço. Por enquanto, trata-se apenas de um fenômeno do TikTok — mas pode se tornar algo bem mais perigoso se nada for feito.