Eduardo Bittar, que desde 2007 convoca os venezuelanos a tomar as ruas e liderou movimentos de resistência até 2017, antes de se exilar devido à perseguição política, expressa seu ceticismo sobre a possibilidade de uma mudança de poder através de meios eleitorais. “Sinto tristeza pelas pessoas que seguem uma falsa oposição controlada pelo regime de Nicolás Maduro. O mesmo regime que organiza, fiscaliza e julga os processos eleitorais na Venezuela”, afirma Bittar.
Na Venezuela, Maduro controla o Poder Legislativo, que nomeia os diretores do Conselho Nacional Eleitoral e os juízes do Tribunal Supremo de Justiça. Bittar ressalta que a maioria dos reitores dessas instituições são ex-membros do partido de Maduro, o que evidencia, segundo ele, que o ditador chavista controla todos os poderes públicos.
Para aqueles que pensam na intervenção das Forças Armadas como uma solução, Bittar aponta uma realidade complexa: embora os comandos baixos não estejam de acordo com Maduro, os generais e coronéis estão profundamente envolvidos em uma rede de corrupção e narcotráfico que lhes oferece uma posição confortável dentro do regime. “Estão muito confortáveis com Maduro e Diosdado Cabello, o número dois do regime, ambos procurados pela DEA por seu envolvimento em diversos casos de tráfico de drogas”, acrescenta.
No entanto, Bittar observa que os quadros médios e baixos das Forças Armadas desconfiam totalmente da oposição, já que, em cada oportunidade, esta funciona como instrumento do regime, entregando nomes de militares contrários ao chavismo. Como exemplo, menciona que, em 2019, mais de 5.000 militares apoiaram Guaidó e foram ignorados e abandonados à própria sorte no exílio após eles reconhecerem o ‘Governo Interino’ e cruzarem a fronteira com a Colômbia em 23 de fevereiro de 2019, durante a tentativa de entrada de ajuda humanitária no país.
MARÍA CORINA MACHADO E GUAIDÓ SÃO A MESMA COISA
Bittar também critica María Corina Machado, que atualmente se apresenta como uma líder de massas com um discurso anti-Maduro. Ele a compara com Juan Guaidó, o anterior líder da coalizão de partidos de oposição, que, segundo Bittar, foi uma criação do próprio regime para fazer o mundo e os venezuelanos acreditarem que, finalmente, havia surgido um líder diferente. No entanto, tanto Guaidó quanto seu partido são membros da Internacional Socialista. Bittar destaca que Machado foi a promotora da Lei de Desarmamento e Controle de Armas e Munições, e é a principal figura política que impulsiona o movimento LGBT na Venezuela, o que, segundo ele, é uma contradição em seus esforços de se apresentar como uma verdadeira opção de direita.
Sobre a proposta de seu movimento político Rumbo Libertad (Rumo à Liberdade), Bittar confia na necessidade de ajuda externa, tanto diplomática quanto financeira. Ele acredita que os venezuelanos estariam dispostos a se organizar para depor Maduro pela força, já que, segundo ele, os únicos momentos em que o regime mostrou instabilidade e esteve perto de cair foram quando foi confrontado com força. Ele cita a resistência cidadã nas ruas de 2014 a 2017, o ex-policial Oscar Pérez e o Capitão Juan Carlos Caguaripano, que lideraram ações concretas contra Maduro, colocando em risco a tirania, embora, finalmente, tenham sido, segundo ele, entregues pela cúpula dos partidos políticos dos quais fazem parte Guaidó e María Corina Machado.
MADURO VAI ROUBAR AS ELEIÇÕES DE NOVO
Em relação às eleições do próximo domingo, Bittar prevê que Maduro manipulará mais uma vez os resultados e roubará a eleição. Ele afirma que isso trará protestos controlados pelo setor que ele qualifica de ‘opo-ficção’ (oposição de ficção), que, segundo Bittar, atua como válvula de pressão bem articulada com o chavismo. “O que seria um teatro das tesouras de duas esquerdas. Uma que pertence ao Foro de São Paulo e outra que responde ao progressismo, à Agenda 2030 e à Internacional Socialista”.
A proposta de Bittar é reunir o apoio econômico e político necessário para enfrentar o regime, confiando que, a partir do resultado das eleições, a população entenderá que não há saída eleitoral e que, segundo Bittar, “líderes como Guaidó e Machado não são mais do que figuras que respondem a esse sistema de convivência socialista, que buscaria se legitimar e manter a população controlada para que não vá muito longe em seus desejos de derrubar Maduro”.