A Justiça da Bolívia restaurou, nesta sexta-feira (2), a ordem de prisão contra o ex-presidente Evo Morales, acusado de tráfico de pessoas em um caso envolvendo uma menor de idade. A medida, que reverte uma decisão anterior da juíza Lilian Moreno, surge em meio a uma disputa política intensa entre Morales e o atual presidente Luis Arce, seu ex-ministro e ex-aliado. Arce, que já foi o “estepe” de Morales quando este foi impedido de concorrer, agora se nega a devolver a liderança ao ex-chefe, num embate que escancara a fragmentação interna no partido Movimento ao Socialismo (MAS).
Apesar do discurso oficial de que a medida representa o restabelecimento do Estado de Direito, há sérias dúvidas sobre a independência do Judiciário boliviano, frequentemente acusado de funcionar como extensão do Poder Executivo. “É realmente uma decisão aberrante a que ditou a juíza […], mas, felizmente, se restabeleceu o Estado de Direito”, disse o ministro da Justiça, César Siles, à rede estatal Bolivia TV. O próprio Morales, ao comentar a decisão, afirmou que está sendo alvo de uma ofensiva para barrar sua candidatura: “Ao povo boliviano, asseguro: minha liberdade está garantida”.
Os autos do processo, no entanto, trazem indícios sérios contra o ex-presidente, acusado de ter mantido relação com uma jovem de 15 anos em 2015, com quem teria tido uma filha no ano seguinte. A promotoria afirma que houve troca de favores com os pais da adolescente, que integrava a guarda juvenil do MAS. Reaberto em 2023, o processo aponta para o crime de tráfico de pessoas, agravando a situação judicial de Morales. Mesmo impedido constitucionalmente de disputar as eleições, o ex-presidente lançou um novo partido e promete desafiar as instituições com uma candidatura que já provoca forte tensão política no país.