As recentes importações massivas de produtos lácteos provenientes dos países do Mercosul estão impactando fortemente o setor de produção de leite no Brasil. Dados apresentados pela Embrapa Gado de Leite revelam que, nos primeiros seis meses de 2023, as importações de leite e seus derivados atingiram o patamar mais alto registrado nas últimas duas décadas. Em comparação com o mesmo período do ano anterior, essas importações aumentaram quase três vezes.
A avaliação realizada pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), vinculado à Universidade de São Paulo (USP), aponta para um cenário onde o leite importado se torna mais competitivo em relação ao produzido internamente no Brasil. Esse impacto é particularmente sentido durante a entressafra, período em que os preços costumam subir devido à menor produção local. No entanto, a combinação do aumento das importações com uma demanda interna enfraquecida está causando uma queda alarmante nos preços, gerando preocupações entre os produtores.
Em junho deste ano, o preço médio pago aos produtores de leite no Brasil ficou em torno de R$ 2,55 por litro, de acordo com o Cepea. Esse valor reflete uma queda de 22% em relação ao mesmo período do ano anterior e está abaixo dos valores observados em 2021, levando os produtores a se manifestarem contra as importações em massa. Recentemente, cerca de 1,8 mil produtores se uniram em protestos na cidade de Porto Xavier, localizada no Rio Grande do Sul, região que faz fronteira com a Argentina.
A Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag-RS) destaca que as importações a preços muito inferiores aos praticados internamente estão colocando em risco a viabilidade da produção nacional, especialmente para os agricultores familiares. A federação ressalta que, enquanto em países vizinhos o quilo do leite em pó custa entre R$ 18,09 e R$ 19,65, no Brasil o valor chega a R$ 26,00.
Diante dessa situação, a Ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet (MDB), se reuniu com a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) para discutir temas relacionados ao setor, como o Seguro Rural, o Arcabouço Fiscal e a situação das importações de leite do Mercosul, sem apresentar medidas concretas para tentar superar a crise.
PREÇOS EM QUEDA
Uma análise dos números revela um cenário preocupante para os produtores de leite. O preço pago ao produtor sofreu uma queda notável de 6,1% em junho, refletindo o aumento das importações. O preço médio estabelecido no Brasil ficou em R$ 2,56 por litro, representando uma queda acentuada de quase 20% nos últimos 12 meses, evidenciando a volatilidade do mercado.
Além disso, a análise também considera a relação entre a quantidade de leite necessária para adquirir uma determinada quantidade de ração. Embora tenha havido uma deterioração em relação a maio de 2023, os números permanecem mais favoráveis em comparação com junho dos anos anteriores.
AMEAÇA À SEGURANÇA ALIMENTAR
A entrada crescente de leite e seus derivados importados, principalmente dos países do Mercosul, está causando preocupações sérias para a indústria de laticínios do Brasil, gerando um grande impacto que pode ter consequências profundas para o setor, já que os produtores locais têm que enfrentar dificuldades para competir com os preços mais baixos dos produtos importados. Isso força os produtores nacionais a reduzirem seus próprios preços para conseguirem se manter no mercado, o que diminui o lucro deles e limita a capacidade de investir em melhorias e inovações na produção.
A dependência excessiva das importações também coloca em risco a indústria leiteira nacional, onde os produtores têm que enfrentar a competição desleal das importações. Muitos deles podem ter que encerrar suas operações ao não conseguirem se sustentar. Isso não apenas resultaria em perda de empregos, mas também afetaria o conhecimento e a experiência acumulados ao longo dos anos, impactando adicionalmente a segurança alimentar brasileira e tornando a indústria menos sustentável.