A história política brasileira é pródiga em reviravoltas e personagens resilientes. Jair Bolsonaro, ex-presidente e atual figura central da oposição, parece apostar em uma estratégia que pretende replicar no Brasil o que aconteceu recentemente nos Estados Unidos: permitir que o desgaste natural do governo de Lula aconteça para, então, capitalizar politicamente sobre o descontentamento popular. Em vez de seguir a rota do impeachment, como aconteceu com Dilma Rousseff em 2016, Bolsonaro prefere observar e acumular forças, exatamente como Donald Trump fez após sair da Casa Branca em 2020, em meio a denúncias de fraude eleitoral.
A diferença entre Dilma e Lula, para Bolsonaro, estaria na capacidade do atual mandatário de transformar um impeachment em uma bandeira política. O Partido dos Trabalhadores soube utilizar a destituição da ex-presidente para consolidar a narrativa de que houve um golpe de Estado, algo que segue mobilizando sua base até hoje. Para Bolsonaro, repetir essa estratégia contra Lula poderia ter o efeito oposto ao desejado: reforçar a figura do petista como um mártir da democracia, embora ele seja mais um player do grupo de Maduro, Ortega e da sua admirada ditadura cubana. Assim, a escolha do bolsonarismo é evidente: desgastar Lula ao longo do tempo e construir um caminho de volta ao Planalto em 2026.
Pesquisas recentes mostram um declínio na popularidade de Lula, um fator que Bolsonaro e seus aliados interpretam como um vento a favor. Com a economia sendo um ponto frágil do atual governo e com lembranças vivas de uma gestão associada à prosperidade sob o comando de Paulo Guedes, o bolsonarismo enxerga um terreno fértil para pleitear o Palácio do Planalto. O ex-presidente e seus aliados têm se concentrado em discursos voltados para temas concretos que afetam o cotidiano do eleitorado, evitando a armadilha de um confronto direto que possa levar à radicalização prematura da disputa.
Além disso, Bolsonaro continua questionando o sistema eleitoral, considerado pelo TSE como inviolável, infraudável e indubitavelmente confiável. Sua estratégia é semelhante à de Trump nos Estados Unidos: reavivar as dúvidas sobre a lisura do processo anterior e reforçar os casos de perseguição política contra lideranças da direita. Essa tática já se provou eficaz para manter sua base mobilizada e, caso consiga recuperar sua elegibilidade ou apoiar um nome forte dentro da direita, pode pavimentar um retorno triunfal em 2026.
Outro fator relevante é a anistia para os condenados dos atos de 8 de janeiro de 2023. Bolsonaro vem trabalhando para transformar essa questão em uma bandeira política, e sua posição contrária ao impeachment de Lula pode estar relacionada a essa negociação. Em vez de gastar capital político pedindo a destituição do petista, o ex-presidente busca consolidar o apoio da oposição no Congresso, garantindo que um possível retorno ao poder seja menos turbulento do que sua primeira passagem pelo Planalto.
A conjuntura internacional também pode influenciar o cenário brasileiro. O escândalo envolvendo a USAID e sua interferência nas eleições de 2022 abre espaço para que Bolsonaro e seus aliados articulem uma CPI e reforcem as investigações sobre a influência externa no pleito. Esse tipo de acontecimento, ainda que controverso, tende a encontrar eco em um eleitorado cada vez mais cético em relação às instituições e pode contribuir para a polarização da disputa.
Por fim, a coincidência entre a presidência do Tribunal Superior Eleitoral por Kássio Nunes Marques, indicado por Bolsonaro, e as eleições de 2026 é um fator que pode alterar o equilíbrio de forças. Se Trump conseguiu se reinventar politicamente após uma avalanche de acusações e processos, Bolsonaro acredita que pode seguir um caminho semelhante. Para ele, tudo indica que o melhor movimento agora é esperar a tempestade passar e, então, com o vento a seu favor, construir o caminho de volta à rampa do Planalto.