Em missão diplomática, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, encontra-se atualmente na China, onde se reuniu com o líder chinês Xi Jinping em um esforço para fortalecer as relações bilaterais e buscar o apoio do país asiático em sua aspiração de se juntar ao grupo BRICS. A visita de seis dias, que marca sua primeira chegada à China desde setembro de 2018, faz parte de uma turnê internacional que inclui outros destinos ainda não revelados.
O mandatário venezuelano expressou seu entusiasmo nas redes sociais ao chegar a Shenzhen, cidade da República Popular da China, afirmando: “Bom dia, Venezuela! Chegamos a Shenzhen, uma cidade da República Popular da China, prontos para o que será uma visita histórica para fortalecer os laços de cooperação e a construção de uma nova geopolítica mundial”.
Em uma entrevista concedida à agência de notícias estatal chinesa Xinhua, Maduro sublinhou seu desejo de que a China apoie a inclusão da Venezuela no grupo BRICS, argumentando que essa relação pode contribuir para o fortalecimento do bloco liderado pela China. Maduro afirmou: “Acredito que os BRICS são um grupo em constante crescimento. Poderíamos descrever o grupo BRICS ampliado como o motor principal para acelerar a criação de um novo mundo baseado na cooperação, onde o ‘Sul Global’ tem um papel central, um mundo sem hegemonia, colonialismo ou imperialismo”.
Além de seu interesse nos BRICS, Maduro também destacou a necessidade de estreitar os laços entre a China, a América Latina e o Caribe, e defendeu uma “refundação” das Nações Unidas para alcançar uma nova ordem econômica mundial. Nesse contexto, ele enfatizou que a China e a Venezuela são “amigos próximos” com “um destino compartilhado no mundo por vir”.
O líder venezuelano vislumbrou o futuro econômico global, afirmando: “O mundo do futuro será um mundo de múltiplas moedas, não um mundo dominado por uma única moeda. Os BRICS estão acelerando o processo de desdolarização mundial e o surgimento de um novo sistema financeiro internacional, bem como de uma nova ordem econômica justa”.
Venezuela, assim como outros regimes na América Latina, como Cuba e Nicarágua, busca se juntar aos BRICS. Em agosto, Maduro ofereceu as reservas de petróleo e terras da Venezuela como parte de sua solicitação de ingresso no grupo. Os BRICS anunciaram sua expansão para incluir seis novos países a partir de janeiro de 2024: Argentina, Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.
Embora a Venezuela possua as maiores reservas provadas de petróleo do mundo, a produção de petróleo diminuiu significativamente nos últimos anos devido a décadas de má gestão socialista que deixaram a indústria petrolífera em um estado precário.
Em um esforço para revitalizar a indústria petrolífera da Venezuela, uma delegação liderada pela vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez, e pelo ministro do Petróleo, Pedro Tellechea, chegou a Xangai na semana passada em busca de investimentos chineses.
Como parte da agenda de Maduro na China, ambos os países assinaram um Memorando de Entendimento que estabelece a cooperação da China no desenvolvimento de “Zonas Econômicas Especiais” na Venezuela, seguindo o modelo de cidades chinesas como Xangai, Tianjin e Shenzhen.
A Venezuela ainda possui uma dívida estimada de cerca de US$ 10 bilhões com a China em acordos de petróleo em troca de empréstimos. A China continua sendo um dos principais financiadores do governo de Maduro, enquanto seu antecessor, Hugo Chávez, contraiu mais de US$ 50 bilhões em empréstimos da China durante seu mandato (1999-2013).
Em abril, foi relatado que a China suspendeu os empréstimos à Venezuela em 2016 devido às “condições econômicas deterioradas” como resultado do colapso do socialismo no país sul-americano. Maduro havia negociado um período de carência de um ano com a China em 2016.
Além de seu apoio financeiro, foi relatado que a China ajudou Maduro a contornar as sanções impostas pelos Estados Unidos à empresa estatal Petróleos de Venezuela (PDVSA) em 2019, enviando milhões de barris de petróleo por meio de navios pertencentes a empresas estatais chinesas desde 2020.
A estabilização econômica do país é um objetivo de suma relevância para Maduro, quem puxa com diferentes forças a diferentes ritmos entre Ocidente e Eurásia: enquanto o jogo de Maduro no Ocidente pretende aliviar a pressão dos EUA e países importantes da UE, tirando sanções setoriais e consolidar uma pacificação diplomática; seu jogo na Eurásia visa aquisição tecnológica, investimentos, renegociações de tratados de exportação e da dívida. A estratégia de Maduro não é de aproximação com Ocidente, mas de dar um pedaço do bolo que a estabilização econômica da Venezuela representa, e dessa forma garantir uma estabilidade sob o consentimento de “partners” satisfeitos.